Membro do Comitê MT da Campanha participou da construção do Plano Juventude Negra Viva do governo federal

Prof. Dr. Carlos Alberto Caetano, presidente do Conselho Estadual de Promoção da Igualdade Racial de Mato Grosso e membro da Campanha pelo Comitê MT, contribuiu com o Ministério da Igualdade Racial para a criação do programa

 

O Conselho Estadual de Promoção da Igualdade Racial de Mato Grosso (CEPIR-MT) contribuiu de maneira significativa para a construção do Plano Juventude Negra Viva (PJNV), lançado no fim de março deste ano pelo governo federal. 

O CEPIR-MT protagonizou ações organizativas e chamativas para instalação de uma oficina entre diferentes juventudes do estado, que deixaram suas contribuições ao PJNV.

Estratégias e instrumentos elaborados para o plano nacional de enfrentamento à violência letal contra a juventude negra e às demais vulnerabilidades sociais decorrentes do racismo estrutural foram construídos coletivamente com contribuição do CEPIR-MT, por meio de encontros, oficinas e mobilizações com as juventudes e o movimento negro, ao lado dos movimentos sociais, sindicatos e movimentos estudantis.

O Plano Juventude Negra Viva foi articulado pelo Ministério da Igualdade Racial e pela Secretaria-Geral da Presidência da República e desenvolvido a partir das demandas de jovens. Em 2023, as pastas realizaram caravanas participativas em todos os estados e no Distrito Federal e escutaram cerca de 6 mil jovens.

Parte das conversas aconteceu em Cuiabá (MT), sob a liderança de Carlos Alberto Caetano, Prof. Dr. da Secretaria de Estado de Educação (SEDUC-MT), pesquisador do Grupo de Estudos e Pesquisas em Política e Formação Docente (GEPFORDOC) da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), membro do Comitê MT da Campanha Nacional pelo Direito à Educação e atual presidente do CEPIR-MT.

O Prof. Dr. Carlos Alberto Caetano conta que mesmo com dificuldades financeiras, o trabalho junto ao CEPIR-MT foi exitoso, especialmente na articulação e realização de um evento de dois dias de diálogos com diversos movimentos que gerou estratégias acolhidas pelo governo estadual e que serviram de base para o PJNV do governo federal. 

“Nós protagonizamos esse processo. Aconteceu no mês de julho, trabalhamos o mês todo organizando esse evento, que foi de suma importância para a participação da juventude naquele momento. Estávamos num governo que ainda não contava com verbas, que haviam sido reservadas ao Plano de Trabalho Anual (PTA). Nós entramos com o nosso PTA e a comissão de Brasília veio. Junto com isso, implementamos todo um trabalho de organização para que esse plano pudesse ter a contribuição do Estado de Mato Grosso, para que pudesse gerar os instrumentos necessários para coibir a violência contra a juventude negra também aqui no Estado, assim como em outras capitais”, relata. 

Caetano, que também foi presidente do Conselho de Políticas de Ações Afirmativas (CPAA/APRAE) da UFMT, ressalta que esse foi um trabalho feito a várias mãos: as equipes do Ministério da Igualdade Racial, da Secretaria de Estado de Educação; da Secretaria Adjunta de Direitos Humanos (SADH) do Estado de Mato Grosso; o CEPIR-MT estando à frente do evento; e todos os principais segmentos e movimentos da sociedade civil mato-grossense. Além das instâncias e entidades citadas, o professor agradece especialmente o apoio do Conselho Estadual da Juventude (CONJUV-MT); do Conselho Estadual de Defesa dos Direitos da Pessoa com Deficiência (CONEDE-MT); do Sindicato dos Trabalhadores do Ensino Público de Mato Grosso, subsede de Várzea Grande (Sintep/VG); das comunidades quilombola e comunidade dos terreiros; e movimentos do hip hop; da juventude estudantil; e de membros dos Conselhos Municipais de Promoção da Igualdade Racial (CMPIRs) de Mato Grosso.

Órgão estadual
O esforço coletivo de anos que vem sendo realizado em Mato Grosso teve como objetivo criar o Sistema Estadual de Promoção da Igualdade Racial (SEPIR-MT), antes do plano nacional. O Prof. Dr. Caetano destaca que a mobilização realizada pelo CEPIR-MT e pelos movimentos negro e de juventude conduziu à aprovação da Lei estadual 11.972/2022, que institui o SEPIR-MT.

“E agora, com o lançamento do Plano Juventude Negra Viva, o governo de Mato Grosso também está sendo chamado a implementar as ações do plano”, diz. “Esperamos agora que aqui em Mato Grosso a gente consiga criar um órgão de políticas para fazer com que o programa seja implementado, e também monitorado e fiscalizado como forma de a gente acompanhar as etapas desse plano, e podermos monitorar e fazer de fato que ele coíba a violência contra a juventude negra, que até então tem sido alvo permanente de todos os tipos de violência possíveis.”

Ele lembra que Mato Grosso foi chamado pelo Ministério da Igualdade Racial a protagonizar a construção do Plano por estar entre as capitais que mais têm ocorrências de violências contra jovens, principalmente jovens negros.

Mato Grosso registrou crescimento nas mortes de crianças e adolescentes, que passaram de 33 em 2021 para 55 em 2023 – representando um crescimento de 67%. Os dados são do Anuário Brasileiro de Segurança Pública de 2023.

Plano Juventude Negra Viva (PJNV)
O PJNV apresenta ações transversais a serem executadas por 18 ministérios, com duração de 12 anos e renovação a cada quatro anos. 

O documento conta com 217 ações e 43 metas específicas, divididas em 11 eixos: saúde; educação; cultura; segurança pública; trabalho e renda; geração de trabalho e renda; ciência e tecnologia; esportes; segurança alimentar; fortalecimento da democracia; meio ambiente, garantia do direito à cidade e a valorização dos territórios.

O governo listou as dez ações prioritárias do plano:

- Projeto Nacional de Câmeras Corporais, com diretrizes, treinamento e capacitação para policiais

-  Criação do Pronasci Juventude, com bolsas de R$ 500 por mês para jovens negros em cursos de capacitação profissional nos institutos federais

- Política Nacional de Atenção Integral à Saúde de Adolescentes e Jovens, com recorte de juventude negra e programa específico sobre saúde mental

- Bolsa de preparação para concursos da administração pública

- Equipamentos de referência no âmbito do programa Estação Juventude, revitalização dos CEUs da Cultura e instalação de Centros Comunitários pela Vida (Convive)

- Promoção de intercâmbios entre países do hemisfério sul, com R$ 6 milhões de investimento em intercâmbios de professores e estudantes de licenciatura para África e América Latina

- Implementação do Pontão de Cultura com recorte específico para a juventude

- Internet em territórios periféricos, comunidades tradicionais e espaços públicos

- Formação de jovens esportistas nas periferias a partir dos núcleos do programa Segundo Tempo

- Crédito rural com foco na produção de alimentos, agroecologia e sociobiodiversidade, com ênfase na ampliação da linha de crédito rural Pronaf Jovem.

A Campanha integra o Projeto SETA - Sistema de Educação por uma Transformação Antirracista, uma aliança formada por organizações das sociedades civil nacional e internacional, com o objetivo de transformar a rede pública escolar brasileira em um ecossistema de qualidade social antirracista. O projeto é coletivo e composto por ActionAid, Ação Educativa, Campanha Nacional pelo Direito à Educação, Coordenação Nacional de Articulação das Comunidades Negras Rurais Quilombolas (CONAQ), Geledés - Instituto da Mulher Negra, Makira-E’ta e UNEafro Brasil. 

O SETA participou do lançamento do PJNV, na figura de Dandara Oliveira, especialista em juventude e raça da ActionAid e em articulação e advocacy do projeto.

(Foto: Fábio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil)